sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ano II

Ano II

Em 2011 uma coisa tomou vida. Surgiu de uma ideia. Tomou forma. Amadureceu. Aprendeu. Ensinou. Como um ronco tímido de um carro que vai aumentando segundo a segundo, essa coisa também cresceu.
 
Em 2011 eu criei um ser. Uma coisa com uma finalidade. Um propósito. Um gênio da lâmpada que realiza desejos. Um psicólogo. Um amigo. Um jornalista. Um escritor. Um ator. Um amante. Tudo junto numa caixinha de Pandora vermelha com um pequeno cavalo correndo em forma de fechadura.
 
Eu criei o Gabriel Ferrari. E vocês adoraram.. Exatamente um ano atrás. Durante seis meses antes eu comandava um inocente Gabriel Matarazzo. Pois é, antes da Ferrari veio o Matarazzo. Mas isso é uma besteira, é claro, o que importa é quem carrega o nome.
 
O Gabriel Matarazzo tinha tempo livre de sobra. Anunciava suas fotos num site pequeno, pouco visto, acabava atendendo se muito, três ou quatro clientes por semana.
 
Então matei o Matarazzo e criei o Ferrari. E fui para um site melhor, visto por muito mais gente. E no primeiro dia o telefone do Gabriel tocou 118 vezes. 118 números diferentes. O Ferrari atendia quatro, cinco clientes num dia. Podia atender mais, claro, que nem a Bruna em frente à fila de espera do Vintão. Mas a máquina precisava reabastecer. Então cinco bastava.
 
Antes do Ferrari, no meu empreguinho de cidadão normal, eu ganhava em torno de mil Dilmas por mês.
 
No primeiro mês do Ferrari eu ganhei 16 mil reais. 16 vezes mais. Tinha dias que voltava pra casa com mil no bolso, ou mais. O que eu ganhava em um mês, passei a ganhar em um dia. Sabe o que isso faz na cabeça de uma pessoa? Exatamente isso que você está pensando.


E eu gostei..
 
Eu virei um workaholic do sexo, passava o dia que nem um vendedor da bolsa de valores, atendia trocentas ligações, marcava trezentas "consultas", saia de um lugar para o outro na cidade ou às vezes passava metade do dia sem conseguir sair do motel onde estava, só trocando de quarto, marcava uma consulta depois da outra, aquilo era a Olimpíadas do Gabriel.
 
No fim do dia depositava meu corpo em minha cama exausto, como se eu estivesse pesando 150 quilos.
 
Isso durou algumas semanas, depois as coisas foram se acalmando e eu pude respirar.
 
Com medo de não conseguir manter os olhos de todos em minha direção, e deixar de ganhar aquele gordo salário todo mês, eu tive uma ideia. Se deu certo uma vez, porque não daria de novo, não é? E assim criei este blog tão querido e odiado por vocês.
 
Quando comecei a ouvir os meus clientes, percebi que muitos tinham dúvidas, curiosidades, e até pensavam absurdos sobre esse meu trabalho. E sobre tudo o que acontecia nesse mundo "underground" do sexo.
 
Então vi que eles precisavam de respostas, e eu era bom em respondê-las. Criei um blog, e comecei a escrever sobre este assunto. Comecei a contar o que acontecia em algumas situações. Comecei a desvendar alguns segredos que ficam guardados na curiosidade das pessoas.
 
Mas não eram só relatos simples, tinha um certo charme nas frases, um tom sarcástico adocicado com pitadas de humor e elegância. Assim foram as palavras de alguns críticos.
 
Muita gente chegou a duvidar que um garoto de programa pudesse escrever aquelas coisas. A riqueza de talento na minha capacidade em escrever fez um nó na cabeça de muitos. Mas ora bolas, eu sou um ser humano normal, tive estudo, tive leitura, não sou um pedaço de carne sem cérebro. Ahh, e como eu adorava surpreender as pessoas. 
 
Pessoas de todo lugar passaram a vir aqui. Do Brasil inteiro. Do mundo inteiro. Sabe o que é saber que uma pessoa do outro lado do planeta está lendo estas simples p-a-l-a-v-r-a-s nesse exato momento e soletrando junto com vocês? É de arrepiar o cabelo da nuca.
 
Depois de um tempo um jornalista me procurou para fazer uma matéria sobre o Blog. Duas semanas depois Gabriel Ferrari estava ocupando duas páginas inteiras do jornal impresso de maior circulação de Salvador.
 
10 mil pessoas acessaram o blog naquele dia. Chegaram a me chamar de o Bruno Surfistinha. Não sei por que, nunca pensei em entrar n'A Fazenda, odeio côcô de cavalo.
 
Dei entrevistas em rádio e televisão. Virei "subcelebridade" sem nem mesmo ter entrado no Big Brother. E digo uma coisa, se ser celebridade significasse ter dinheiro, eu tava rico. Como nunca fiquei rico (ainda, muááá..) continuei sendo o mesmo de sempre, e seguindo com as minhas "consultas".
 
Mas é claro que quando uma coisa chama atenção, todo mundo quer conhecer. E graças a isso permaneço no "gosto" popular. E quanta coisa diferente eu encontrei, viu.
 
Pra começar a primeira vez que fui num motel foi no meu primeiro programa. Depois disso tudo que veio era novidade. Transar com uma pessoa do mesmo sexo nunca esteve nos meus planos, mas encarei com profissionalismo. A necessidade faz o homem.
 
Confesso que já fui o amante em muitos namoros alheios na minha adolescência, mas transar com a esposa do cara na frente dele é bem diferente. Isso também aprendi a fazer.
 
Eu nunca tinha feito sexo a três antes. Hoje faço a três, a quatro, a cinco, a 127.. Mesmo assim, ainda prefiro o dois a dois mesmo.
 
Já transei com mulheres da idade da minha mãe, imagina. E afirmo, sexo não tem idade. As coroas jogam duro, rsrsrs. E as gordinhas? Bobo é o homem que subestima as diferenças. Bobo é o homem que não sabe apertar uma boa carninha. As gordinhas são tão mulheres quanto uma magrinha. Gemem do mesmo jeito. Te pegam do mesmo jeito. E aquilo lá, é apertadinho do mesmo jeito. Ahh, abençoada seja a fartura..
 
Toda mulher é atraente. Gordinha, magrinha, alta, baixa, nova ou velha, basta saber usar aquilo que tem, e o homem ficará louco do mesmo jeito.
Encontrei pessoas de todas as idades, de várias profissões. Cada uma com suas vidas diferentes, personalidades das mais variadas. E percebi que eu tinha uma capacidade mágica de adaptação. Eu me adapto a situações diferentes muito rápido, consigo entrar em qualquer conversa, sobre qualquer assunto. Já me peguei muitas vezes discutindo processos judiciais com clientes, filosofando sobre o universo, dividindo ideologias com um analista, aconselhando em problemas de relacionamento, eu pareço um Bombril às vezes, multi-uso.
 
E minhas viagens.. Quem diria que até nesse trabalho tinha serviço delivery. E eu ia. Juntava minha coragem e ia. Não se deve pensar muito nessas horas. Eu apenas seguia o fluxo. E quando parava pra pensar, me via sentado num avião sobrevoando o Brasil de uma ponta a outra.
 
Esse ano passou tão rápido. Mas aos poucos minha vida foi se ajeitando. Paguei dívidas. Comprei coisas. Juntei dinheiro. Comprei mais coisas. Perdi a noção do dinheiro. Comprei mais coisas. Pus o pé no chão. Juntei mais ainda. Parei de comprar coisas. Comprei meu carro. Aprendi a me controlar, a ser meu próprio contador. Coloquei metas no jogo. Em pensar que hoje ganho mais do que minha antiga chefe..
 
Só que dinheiro não é tão importante, as conquistas que são.
 
Acho que amadureci mais nesse ano do que em cinco. E devo um pouco disso a vocês. Que vieram aqui e participaram, contribuíram com a formação de muitas ideias e discussões. Que me mostraram o quanto dividir faz a diferença.
 
Obrigado pelas críticas, elogios e incentivos. Obrigado pelas nossas conversas. Este foi o meu 2011. Um ano de provações e aprendizado.
 
E agora, que venha 2012. E tudo de bom que ele possa nos trazer. A aventura do Gabriel continua.. Ainda temos muita coisa pra conversar. Obrigado a todos..
 
Gabriel Ferrari.

gabriel.ferrari2011@hotmail.com