domingo, 27 de novembro de 2011

Bonanza


Bonanza

Toda tempestade, tem seus momentos de calmaria.

E nos momentos mais tranquilos, a gente lembra como tudo começou. E um dos primeiros textos aqui no blog, também foi um dos mais comentados. Foi elogiado, foi engraçado, foi nojento, foi rico em detalhes, e foi lembrado. Eu preciso de foco. Preciso parar de girar para continuar fazendo isso. Sabe quando a gente tem medo de carregar o mundo nas costas?

Pois bem. Então vamos lembrar um pouquinho das raízes, já que aposto que muitas pessoas não devem ter lido. Eu gosto muito. Rio sempre que me lembro de cada coisa engraçada que já passei. E se já não conhecem, divirtam-se.

...

127 anos..

Sim, eu sabia que era uma roubada, mas eu sou teimoso. E lá ia eu me fuder pela primeira vez. E olha que foi a primeira vez que tive nojo nessa aventura de profissão que escolhi. Não tenho distinção com os meus clientes. Atendo todo mundo, desde que não seja menor de idade, louco, ou tenha fugido de um asilo. Mas nesse dia eu esqueci a regra do asilo.

O endereço era no Rio Vermelho, próximo ao Bingo. Era meia noite, não costumo atender ninguém esse horário, mas fui porque o “salário” me agradou. E se eu não atendesse essa pessoa ela ia ter um infarto, literalmente, de tanto que me ligava.

Era uma casa. Na verdade um daqueles sobrados de dois andares, muito simpático por sinal, mas só. Retornei a chamada no celular e a voz do velho respondeu. Segundos depois ele vinha abrir o portão de ferro, e ali eu já vi que ia ser uma daquelas noites em que eu não devia ter saído de casa. Sou profissional, encaro qualquer parada, mas aquele velho parecia ter saído de um daqueles filmes de zumbi do George Romero. Ele dava passos curtos, arrastava os chinelos no chão. Pernas um pouco inchadas, algum reumatismo já morava ali. Alguns fios de cabelo balançavam solitários naquela careca enrugada, e um óculos de grau estava pendurado no nariz. O cheiro do cigarro chegou primeiro do que ele ao portão. Mas o mais “acolhedor” era a respiração dele. Respirava forçadamente e fungava o nariz todas as vezes. Devia ser daquelas pessoas que fumavam “50” maços de cigarro por dia. O vôvô acabava de ganhar o posto de pessoa mais asquerosa que já tinha encontrado, e graças a deus eu conto nos dedos de uma mão quantas eu já encontrei nessa vida. Ele em si, não era tão assustador, mas era o conjunto que fazia ele ser o vilão do meu filme de terror.

Entramos então, ele disse que aquela não era sua casa, que era um sobrado que ele iria alugar em breve. Ele tinha acabado de chegar também e quando passávamos pela porta da frente, me disse que não havia ligado o quadro de luz, pois o apartamento do térreo, nosso “ninho de amor”, estava em obras.

Não sei se agradeci aos céus naquela hora por não haver luz ou se amaldiçoava a hora em que havia atendido a chamada daquele velho que parecia ter 127 anos, mas a falta de luz me deixava mais tranqüilo. O velho não enxergava um palmo diante do nariz e eu tinha que iluminar o lugar com meu celular. Sim, o lugar estava em obras. Não havia muitos móveis e o chão estava com os azulejos todos em pedaços. Aquilo tinha cheiro de ambiente fechado, de pó das paredes lixadas e do cemitério de A volta dos Mortos Vivos. Horripilante. Um nojo. Tentei ligar algumas luzes, mas realmente nada acendeu. Encontramos o quarto onde eu iria pagar meus pecados. Uma cama de casal, lençóis e um guarda-roupa grande, marrom e velho. Tudo escuro. Só meu celular iluminava o lugar. Bem que podia acabar a bateria naquele instante. Perguntei onde era o banheiro enquanto o velho se ajeitava na cama.

Antes de milagrosamente encontrar o banheiro, tratei de percorrer todos os quartos, cozinha e corredores com a luz do celular. Tudo seguro, só restos de coisas. Até embaixo da cama do velho, olhei. No banheiro, também em obras, fui urinar. Estava apertado, celular na boca iluminando o jato do mijo. Terminei e fui até a pia na intenção de lavar as mãos. Mas ao apontar a luz do celular pro ralo da pia, três baratas gordas e macabras descansavam ali. E quem me conhece sabe o quanto "adoro" baratas, e vai me perdoar por ter desistido de lavar as mãos.

Sim, podia ficar pior. Eu tinha que comer o velho, era minha missão naquele filme. E ainda bem que tínhamos combinado só aquilo. Nada de liberdades, romantismo ou preliminares. Tirei a roupa e fiquei só de meias. Claro, eu não ia pisar descalço naquela cama e chão poeirento. Cadáveres de baratas adornavam os cantos do quarto e quando iluminei a cama, uma camisinha usada repousava perto do travesseiro. Naquele momento percebi na penumbra outros preservativos espalhados no chão do quarto. Não bom Deus, eu não deveria estar naquele lugar. Eu, acostumado a motéis caros, coberturas no Itaigara, aos bangalôs luxuosos do Hotel Pestana, estava ali, tirando camisinha usada da cama com a sola do sapato. Não, eu não deveria estar ali.

O velho ficou de quatro, uma bunda magra e peluda apontava para o teto. Ainda bem, pois daquele jeito eu mal triscaria nele. Pus a camisinha, me benzi disfarçadamente e fui. Ali começou uma viagem astral. Enquanto o velho fungava e gemia com a cara enterrada no travesseiro, eu estava em Urano, no Havaí, Fernando de Noronha, ou qualquer lugar bem distante dali. Queria ver algum puritano dizendo que ganho a vida “fácil” nessa hora. Foram dez minutos de meditação Budista até o velho gozar. Fingi um orgasmo segundos depois, temendo que aquela cena tivesse que continuar. Ali confesso que ganhei um Oscar. Nunca precisei fingir um, mas pra tudo tem uma primeira vez.

Sai da cama e fui andando até a cozinha. Que cena. Eu, nu, de meias e um celular-lanterna na mão. Cada vez que a luzinha do celular desligava era como se o Freddy ou o Jason fossem pular da escuridão. Na cozinha lavei o rosto e a virilha, único lugar onde aquilo tinha encostado em mim. Voltei ao quarto e enquanto vestia a roupa o velho falava que ia me ligar de novo, que ia me chamar sempre. Eu apenas assentia com a cabeça e dava aquele meu sorrisinho simpático de sempre. O número dele tá aqui salvo no celular. Sabe quando vou atender ele de novo? É, vocês entenderam. Me despedi do cliente no portão e rezei pra encontrar um taxi o mais rápido possível.

Entendam, normalmente não tenho essas surpresas. Todos os clientes que atendo são pessoas normais, agradáveis, e nunca tive situações desse tipo. E agradeço a todos por me ajudarem a construir meu futuro. Mas às vezes acontecem essas coisas, que olhando agora, interpreto como engraçadas experiências.

Mas quando cheguei em casa naquele dia, passei uma hora no banho, gastei um sabonete inteirinho, e minhas meias foram pro lixo sem pensar duas vezes, rsrsrs..

Gabriel Ferrari. (12 de Abril de 2011)

...

Ps.: Não tenho nenhum problema com a idade de ninguém, mas sim com o descaso e descuido para consigo mesmo e com os lugares e o modo como vivem.

Gabriel Ferrari.

11 comentários:

  1. E ai Gabrielzim,me diga,o q vc vai pedir pro papai noel rsrsrs ?
    RUY

    ResponderExcluir
  2. Olá Gabriel, Boa noite...

    Interessante sua História, eu fiz um único programa na vida para nunca mais... foi tão complicado que vi que eu não teria estomago para continuar. Gosto mesmo do que me apetece aos olhos e geralmente nessa vida não é o que se encontra, pelo menos na minha realiadade... quem fala que essa vida é fácil, realmente não sabe o que está dizendo...

    Agora o que gosto é de controtatar alguém que me proporcione bons momentos... Mas as vezes paro e penso... será que ele está tendo nojo do que está fazendo, ou está tendo prazer? Complicado néh?

    Se vc estivesse mais perto juro que tentaria te contratar para um trabalho bem especial, mas num seria de 10 minutos não... Afinal quem faz rapidinho assim é galo né? Num concorda? Num sou assim aquele sinonimo de beleza mas estou tentando me cuidar para poder melhorar néh?

    Se tudo der certo... Pretendo ir a Bahia e quem sabe não possa contar com seu trabalho? Sonhar pode né? Afinal o que seria do ser Humano se não fossem os olhos?

    Sabe... sentir prazer maior orgão do corpo Humano é uma sensação sem igual... ainda mais quando esse prazer é estimulado por alguém especial...

    Beijão...

    ResponderExcluir
  3. Olá Ferrai!
    Hoje curiosamente passei em seu blog, depois de já ter passado por aqui há algum tempo, querendo ler algo descontraído, gosto de leitura da vida real, rsss...se é que me entende. E dou de cara com um texto hilário. Soltei altas gargalhadas.
    E é assim mesmo como você relatou às vezes a gente sente que está se metendo em uma enrascada mas, sei lá o que dá o instinto de super herói que temos fala mais alto e que desafios e minutos depois vc sente raiva por ter indo e reza muito mais muito para que saia vivo daquela situação. Já passei por isso algumas vezes, e se Deus me permitir pra mais nunca.
    Cheguei comentando seu texto numa maior intimidade como se vc me conhecesse, né? Desculpa, sou a Anita Castanho, antigo nome de guerra, ex acompanhante, profissional do sexo, qualquer coisa do tipo, rsss... e conheci seu blog depois daquela famosa entrevista na TV, acho q o mundo te conheceu após aquela entrevista, né? Celebridade...
    Em breve vou escrever num blog que também tenho e gostaria que você me prestigiasse, viu.

    ResponderExcluir
  4. ...

    "Ruy", o que vou pedir ao Papai Noel? Tem tanta coisa. Podia pedir pra ele fazer um milagre, e dar mais felicidade para certos infelizes que vem aqui no blog falar cada merda, que fariam o tal Noel nunca querer sair do Pólo Norte.

    ...

    "Rapha", o trabalho não é ruim, não. E pra ser sincero, encontro muita gente bacana, bonita e interessante também. Geralmente a maioria são pessoas muito agradáveis, e isso facilita. Mas sabe o que é uma pessoa bonita de verdade? Uma que seja educada e de bom carater.

    ...

    "Anita", colega, um grande abraço.. :)

    ...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi,olha torço que tudo sempre dê certo em sua vida,e lembre-se que tem pessoas que gostam de ti e vão querer sempre o seu bem,abraços ai

      Excluir
  5. Olá Gabriel, boa noite...

    Realmente, você tem toda razão a beleza vai muito além do estético e do físico.

    Obrigado ela bela demonstração de humanindade contida em suas palavras... Vem para o ES, vem?

    Abraço

    ResponderExcluir
  6. ...

    Porra, fiz uma cagada aqui no celular e acabei apagando um comentário que tinham mandado aqui nesse texto. Coisas de aparelhos touch screen.

    Bom o comentário perguntava se dá pra encontrar pessoas atrativas nesse trabalho, pessoas que me façam sentir tesão na hora do sexo.

    Eu amo fazer sexo, só ai já me escita.

    Mas é claro que encontro também muuuitas pessoas interessantes, bonitas, mulheres lindas, algumas novas, outras mais velhas, siliconadas ou não. Encontro gente de todo tipo, mas gente bonita também, lógico. E sim, sinto tesão às vezes, não só pela beleza, mas pq meu corpo está sendo estimulado naquela hora, é normal, são reações possíveis. O trabalho não é tão sempre nojento como pensam. Tem suas aventuras. Sem envolvimento, é claro.

    ...

    ResponderExcluir
  7. Bom saber que podemos te excitar tb!!! Pensei q vc fosse sempre no automático!

    Bj

    ResponderExcluir
  8. Olá, Gabriel. Nunca mais tinha visitado seu blog e hj resolvi revisitá-lo e ao ler alguns depoimentos, me surpreendi com esse, onde pude perceber realmente o profissionalismo que um gp precisa ter para encarar determinadas situações. Às vezes até me pego pensando na possibilidade de fazer uns programinhas mas depois de pensar nas "trezentas" possibilidades que podem ocorrer nesse caminho, volto atrás (pode ser até covardia minha, mas enfim...). Me surpreendo tb em pensar como consegue ficar excitado ao se deparar com uma situação dessas. Acho que o minimo que faria era brochar - kakakaka. Qual o segredo???
    Grande abraço e bom 2012 pra vc!!!

    ResponderExcluir
  9. Parabéns pelo trabalho, pela primeira vez que encontro um garoto de programa que sabe articular seus sentimentos e acontecimentos,um diferencial espetacular. Se tu não fosse hétero diria que finalmente encontrei o meu homem rsrsrs Brincadeiras a parte, gostei muito dos seus relatos e dos seus ponto de vista " a sua vdd. Abraçãoo fature Rapaz $$

    ResponderExcluir
  10. KKK me senti no The walking dead Gabriel, e aliviado também primeiro programa que fiz foi um senhor de 49 anos e me pagou bem não podia recusar, senti que levo jeito para a coisa mas vc leva o Oscar parabéns.

    ResponderExcluir