sábado, 23 de abril de 2011

Olha que coisa mais linda..







Olha que coisa mais linda..

Madrugada de sexta, 03:25 am..

O taxi seguia em alta velocidade pela larga avenida. Àquela hora da madrugada não existiam muitos carros trafegando, por isso o caminho estava livre. Mesmo assim eu temia não chegar a tempo. Eu tinha uma mochila no colo, abarrotada de coisas. Iam ser três dias, eu sei, mas parecia que eu estava levando roupa pra umas três semanas.

O celular vibrou de novo. Era a quarta vez em cinco minutos. Quem diabos estava me ligando uma hora dessas da madrugada? É engraçado como tem gente que tem “tara” de me ligar quatro, cinco, às vezes seis da manhã. “Querem o quê, uma matinê?”. Digitei na mensagem que estava um pouco tarde pra me ligar, e que estava indo naquele momento para o aeroporto, que estaria ausente no fim de semana e retornaria no domingo. Uma mensagem conformada veio em seguida, dizendo que ele ligaria outro dia. “Tome uma ducha e volte a dormir.” Pensei.

Eu estava com os minutos contados, o vôo sairia as quatro em ponto. A Avenida Paralela por ser uma grande reta ajudava um pouco, mas eu tinha medo que fosse igual à última vez. Duas semanas antes eu tinha sido chamado a Belo Horizonte, coisa de última hora. O cliente ligou me “convocando” a ir passar a noite com ele em BH. Aquilo tinha me pego de surpresa. Ele disse que tinha um vôo para o mesmo dia, à noite. E eu voltaria pra terra do axé pela manhã. Eu disse o valor do cachê. E uma hora depois algumas Dilmas a mais preenchiam minha conta bancária. Passagens confirmadas pela internet e eu fui.

Lembro que cheguei ao aeroporto faltando dez minutos para o embarque. Atravessei o gigantesco hall de entrada do Aeroporto Dep. Luís Eduardo Magalhães com meu nome sendo anunciado nos auto falantes. Com o bilhete do vôo impresso numa folha de papel numa mão e a mochila em outra, corri até alcançar o corredor de embarque. Eu tinha de passar ainda pelo detector de metais. Pus a mochila numa bandejinha branca, minha chave de casa e meus dois aparelhos celulares também.

Eu transpirava nervoso. Eu ia perder o vôo. Passei pelo portal detector. Ele apitou. Surpreso, comecei a olhar pra mim mesmo. Um homem de terno me mandou verificar os bolsos de novo e passar pela máquina. Meti a mão no bolso e tirei um punhado de moedas, troco do taxi. Merda. Passei de novo. De novo a máquina apitou. Outro homem de terno se juntou ao primeiro e começou a falar no rádio. Meu coração gelou. Será que eu estava armado e não sabia? Não, não estava. Era o meu cinto, a fivela dele era de metal. Merda de novo. Tirei o cinto quase arrancando as calças, passei pela máquina aliviado por ela ficar muda dessa vez. Peguei minhas coisas e corri de qualquer jeito. Cheguei até a porta do avião segurando as calças, não pude parar pra colocar de volta o cinto. O capitão foi quem me esperava na porta com um sorriso forçado no rosto. “Só estava esperando você” Ele disse. Sim, sozinho consegui atrasar o vôo, eu não mudo mesmo.

Olhei pro relógio de novo. Ia dar tempo dessa vez. Meia hora depois eu estava sentado olhando pela pequena janela do avião, vendo Salvador ficar pequenininha lá embaixo.

Não sei por que, mas eu sempre acho que aquela merda vai cair. Eu odeio turbulência. Quando vejo que o avião vai entrar numa nuvem carregada eu fecho a janela e grudo na cadeira, feito uma lagartixa. Odeio turbulência.

O vôo tinha escala em São Paulo. Enfim eu ia ver como era do alto a mega metrópole brasileira. Eu ia ver né, se as nuvens que cobrem o céu de São Paulo deixassem. Era dia já, e momentos antes do pouso em Congonhas, tudo o que se via lá embaixo era um grande tapete branco cobrindo a cidade paulista. De vez em quando eu via bairros. Bairros sem fim. Prédios e prédios enfileirados. Era como se houvesse um mar de casas e edifícios que nunca acabava.

Daí que o avião mergulhou naquele tapete branco e segundos depois tudo apareceu de repente. Toda a cidade podia ser vista, aliás, ela quase tocava o avião. A nave se aproximava do solo e eu não via a cidade acabar lá embaixo. Os prédios, as casas, tudo continuava querendo engolir o avião. Senti que não ia encontrar aeroporto nenhum a frente, não era possível que a aeronave estivesse assim tão perto das casas. Se alguém estendesse a mão no topo de um prédio alto tocaria o trem de pouso. Eu ia morrer, sabia que ia morrer. O avião desceu mais e mais até aquela visão se tornar insuportável e de repente no instante em que surge uma pista de pouso do nada ele toca o solo. Era incrivelmente louco que um aeroporto se encontrasse no meio da metrópole. No meio de tudo. Pousar em Congonhas é extremamente lindo e perigoso ao mesmo tempo.

Sempre me disseram que o céu de São Paulo é cinza. E é mesmo. No vôo seguinte eu fui o último a entrar. Não estava atrasado, mas também não estava com pressa. Entrei no avião, olhei pra aquele monte de gente sentada. Dei uma risadinha cínica por dentro, não pude evitar. Eram 7 da manhã e acho que só eu naquele avião não estava de terno. Até as mulheres estavam de casaquinhos sociais. Todo mundo muito sério, gel no cabelo, barba feita, cara de poucos amigos. Foi ai que entendi que ir de Sampa pro Rio de avião era como realmente pegar um taxi. Aquela gente estava indo trabalhar. Foi esse o motivo do riso solto. Eu também estava indo trabalhar. Eu só não trabalhava de terno, todo engomado. Eu usava uma calça skinny preta e uma bata branca desfiada da Osklen. Sou muito mais o meu uniforme. E acho até que o meu salário no fim do mês era maior do que o de muitos deles ali. Mas, cada um com seu diploma né..

Se existe visão mais linda que aquela no mundo, eu duvido. Eu nunca tinha visto aquilo tão de perto. Aqueles morros cortando a cidade, aquelas praias, aquele sol. Lá longe, no alto de um morro, podia ver a silhueta dele me recebendo de braços abertos. O Cristo tornava aquela cidade muito mais maravilhosa do que eu imaginava. O Rio de Janeiro é um conjunto de sensações indescritível.

A aeronave passou por cima da ponte Rio - Niterói e começou a se aproximar das águas. Novamente achei que não ia pousar em solo firme, que talvez tivesse que ir nadando até o corredor de desembarque. Mas logo o Santos Dumont surgiu liberando seu tapete negro para o nosso pouso.

Fui o caminho todo do taxi ao hotel tirando fotos que nem uma criança, embriagado com tudo o que via pela frente. O mais incrível de tudo eram os morros no meio da cidade. Você podia virar uma rua e de repente dar de cara com uma montanha de pedra.

Quando parei na porta do Hotel, não pude resistir àquela vontade. A praia estava a uns 40 metros da entrada do hotel e ao invés de seguir até a recepção fui andando em direção a orla. O calçadão era muito largo, uma placa indicava Ipanema. Sim, aquele lugar era o paraíso. Que praia, que sol, que vista, que areia, que vôlei, que morro, que tudo. Tudo era muito lindo e ponto. Me apaixonei pela garota de Ipanema naquele instante.

O Rio te embriaga pra onde você olhar. Fomos almoçar no Restaurante Porção com toda aquela vista da Baía de Guanabara em frente a nossa mesa. Depois passei a tarde visitando o Bondinho e ali você entende porque aquela cidade é maravilhosa. A vista dali de cima é de cair o queixo. Pra onde você olha do alto do morro da Urca você suspira. Tirei zilhões de fotos, babei zilhões de vezes olhando aquilo tudo. Pena que no itinerário não tinha tempo para subir até o Cristo. Mas fica pra próxima.

Visitar o Rio foi delicioso e a companhia também era super agradável. Um cliente que se tornava um amigo cada vez mais. Eu estava ganhando um fim de semana fantástico e ainda recebendo por aquilo. É nessas horas que nosso suor faz valer à pena.

Fui a muitos lugares, e a praia não ficou de fora. Também almocei no Barthodomeu, um lugarzinho maravilhoso em Ipanema. Fui ao Cine Ideal, e curtir aquele sonzinho no terraço ao ar livre, foi muito bom. Até que então no sábado fomos pra famosa e tão aguardada, boate The Week.

Se for visitar o Rio e gostar de uma boa balada, vá à The Week. Que lugar fantástico. Tá que eu fico meio receoso de ir nesses lugares assim, considerados GLS. Mas lá eu me diverti. Linda e maravilhosamente sedutora a The Week te faz vibrar. E eu vibrei. Ah como eu vibrei..

Me despedi do Rio no domingo com um gostinho de quero mais na boca. Mas quem visita aquela cidade, sem sombra de dúvidas vai retornar algum dia. Prometi pular de Asa Delta na próxima vez, imagina.

Voltei pra casa pensando o que seria de mim agora, pra onde iria na próxima vez, que lugar iria conhecer. É assim que a gente fica quando começa a viajar. A gente vicia. Se desprende. Começa a entender que nosso caminho pode ir muito mais além do que se pode imaginar.

Gabriel Ferrari.

10 comentários:

  1. cara, adorando seu blog!
    voce manda muito bem na escrita, vai fazer sucesso!

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  2. É o Rio encanta mesmo o melhor na minha opiniao é o bondinho com o pão de açucar nossa *-*, trauma por tubulencias que inusitado kk

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  3. Adorei o seu blog. Demonstras que tem um contato íntimo com a escrita, e isso torna a leitura muito gostosa. Parabéns!
    Bjus, fica com Deus!

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  4. Interessante o blog.li todos os posts.e sim...a bruna fez escola!adorei o trabalho"suado".literal.e..."quando trabalhava normalmente".palavras do proprio gabriel.enfim forma e contéudo fizeram as pazes.Vamos ver se vale a pena.afinal ele não cobra pelo seu corpo e sim por nossa carência!

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  5. "Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias. Precisa viajar por si, com seus olhos e com seus pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos e simplesmente ir ver."

    (Amyr Klink)

    Beijos, Renata

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  6. zeus22_ssa@hotmail.com13 de julho de 2011 às 22:00

    realmente garoto você tem razão o Rio é uma loucura pena não ter conhecido o Cristo.Se conheceu a noite da Lapa hum nem falo perfeita e apaixonante feito você kk expectativa em conhecer você é muita to tentando resistir mais vai ser difícil.

    (Fredy)

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  7. Caaara, eu sempre leio seu blog, e adoro tudo que você escreve...você é simplesmente incrível, facinante!!
    M.

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  8. Tudo perfeito aqui, vc é o paraíso rapaz!!! Inteligente, bonito, carismático, sensível! Mais uma admiradora da sua bela escrita. Fica bem, Nara.

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  9. Você torna os momentos com seus clientes maravilhosos, mais você não pensa que pode magoa-los e deixa-los apaixonados,
    isso não pesa em sua consciêcia não?

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  10. "A verdadeira arte de viajar...
    A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
    Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
    Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
    Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!"

    Mário Quintana

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