quinta-feira, 16 de junho de 2011

Alice


Alice

O taxi parou em frente ao portão de entrada. Era um edifício, daqueles de luxo. Altos, com varandas largas. A mulher pagou o taxista e saiu. Quem viu ela descer do carro foi acompanhando o olhar do salto alto aos olhos negros. Negros como a noite.

Identificou-se na portaria, disse o apartamento que desejava ir e entrou. Ela já era aguardada. Aquela mulher de vestido preto de couro colado ao corpo era um pedaço do próprio céu. Era um anjo. Uma luz. Um tesão.

Suas grossas coxas escapavam por baixo do curto vestido e dançavam hipnóticas, de um lado ao outro acompanhando seu caminhar.

Suas curvas eram de arrasar. A bunda perfeita empinava e fazia o couro esticar. Seus seios fartos como de uma atriz pornô americana formavam duas conchas invertidas que se juntavam num V que faria qualquer homem se entregar aos seus pés. Ela era um demônio.

Saiu do elevador e cruzou o corredor por sobre um longo tapete vermelho sangue. No meio do caminho parou. Aproximou-se de um grande espelho que tinha na parede do corredor. Viu seu reflexo e abriu um sorriso perverso. Como era linda. Linda e fatal. Continuou até chegar à porta.

A maçaneta girou e uma mulher surgiu atrás da porta. Ela vestia uma saia azul de tecido justa. Uma camisa social de botão por dentro da saia e um sorriso no rosto. Era bonita. Devia passar dos 35 e tinha jeito de empresária. Essa era a cliente do dia.

- Venha, entre. Não tenha medo mocinha, eu não mordo.

Era só o que o anjo de preto queria ouvir. Entrou lentamente. Sentiu a dona da casa a olhar de cima a baixo, deliciando-se em pensamentos eróticos.

- Alice. Este é o seu nome, não é?

O pequeno anjo negro limitou-se a fazer um aceno de cabeça em resposta. Seus olhos procuravam outra coisa. Investigava o apartamento mentalmente, concentrava-se nos sons, cheiros, queria saber se tinha mais alguém ali. Um riso disfarçado brotou no canto da boca. Não havia ninguém. Estavam sozinhas.

Virou-se de volta para a mulher de olhos tarados. Como uma gata, seduzindo a cada passo, veio até ela e beijou sua boca. Dos lábios foi até a orelha. Passou a língua de leve e falou baixinho "Vamos pra cama, meu bem. Estou doida pra tirar esse vestido."

A mulher de cabelos ruivos e camisa de botão mordeu os lábios. Parecia ter entrado em torpor com aquele beijo. Abriu os olhos e arrastou a garota de preto pela sala.

Atravessaram alguns cômodos pelo corredor até chegar num grande quarto. Quadros e móveis caros, tapetes e livros se espalhavam por toda a casa, mas o quarto era mais acolhedor do que o resto do apartamento. Mas nada daquilo importava. Só um desejo consumia o pequeno anjo.

Pararam em frente à cama. Ambas olhando fixamente nos olhos. E devoravam-se. Sedução. Calor. Começaram então o assédio aos botões e zíperes. Uma tirando a roupa da outra. Descobrindo cada detalhe do corpo alheio.

Quando a ruiva tocou com os lábios o bico do seio farto do pequeno anjo um gemido baixinho fez despertar algo dentro da pequena Alice. A ansiedade se misturava a excitação, a ruiva atacava seus seios com vontade. Mordia e dançava com a língua em volta do bico rosado.

Luxúria.

Alice era um delírio aos olhos de qualquer um. Sua pele era branca, branca como a neve. Seus longos cabelos lisos eram negros e contrastavam com seu tom de pele. Era uma mulher pequena, uma garota que parecia ter completado seus vinte anos agora. Uma ninfa.

Com um leve empurrão Alice desgrudou a mulher do seu corpo, deitou-a na cama e olhou fixamente em seus olhos.

- Você me quer? - perguntou a menina.
- Quero, quero sentir você escorrendo na minha boca, quero minha língua dentro de você. - disse a ruiva, já transpirando e puxando o ar entre os dentes.

Alice deitou e abriu as pernas, mostrando seu corpo depilado onde a mulher queria ver. Com uma das mãos acariciou e enfiou um dos dedos em sua vagina. Estava molhada. Seu corpo ainda respondia a esses estímulos. Seu corpo ainda lutava pra sentir todos eles.

Sentir. Era isso que o anjo negro buscava sendo uma prostituta. Pra ela não bastava possuir as pessoas. Ela queria possuir tudo. Queria o desejo do outros. Queria a alegria. A tristeza. Buscava a todo custo sensações que a lembrassem como era. Como era estar viva.

E o prazer do sexo fazia o corpo humano pulsar como uma bomba de adrenalina. O tesão. O orgasmo. Aquilo era um elixir, uma sensação que fazia o sangue ferver nas veias. Era isso que a alimentava.

Alice puxou a cabeça da mulher pro meio das suas pernas. Se era isso o que a mulher queria ela ia dar. Sentiu a língua roçar seu corpo, lamber suas entranhas. A mulher delirava com a cara enterrada nas coxas de Alice. Atacava a fenda da garota de pele pálida tentando sugar o que escorria dela. Aquilo a enchia de tesão.

Inverteram a posição, Alice agora passou a lamber a sua cliente também, formavam um conhecido 69. Línguas e dedos moviam-se frenéticos. Alice sentiu a mulher estremecer dos pés a cabeça. Era a hora. Não conseguiria resistir mais.

Uma sensação delirante tomava conta da pequena Alice. A consumindo. A corroendo por dentro. Um aperto no estômago. A pupila dilatando. A hora chegara. A mulher que se contorcia na sua frente estava pronta.

Agarrou com uma das mãos a coxa esquerda da mulher. Achou o ponto que queria em sua virilha. Sentiu pulsar. Sentiu o sangue jorrando na artéria femoral da sua cliente. Alice era um anjo. Alice era um demônio. Alice era uma vampira.

Seus dentes brotaram afiados na boca pequenina. E então delicados e letais cravaram-se na virilha da mulher ruiva. Esta gemeu. Mas não de dor. Gemeu de prazer. Alice sugou com força o primeiro gole. Bebeu o segundo. Os gemidos da mulher aumentaram. Dois filetes de sangue escorriam da coxa à cama, manchando os lençóis.

A cada gole Alice gemia excitada. A mulher acompanhava o compasso agora aos gritos, gritos de extremo prazer. Até que um longo gemido fez a mulher ruiva revirar os olhos e desfalecer exausta, satisfeita. O orgasmo jorrou goela abaixo na vampira e esta se afastou embriagada pelo sangue tomado. Também estava satisfeita. Sabia a hora certa de parar.

Não ia tirar a vida daquele corpo. Não precisava de tanto. Não gostava de matar ninguém. Era uma vampira, mas não precisava matar. Tinha aprendido isso com o tempo. Evitava problemas.

Enquanto sua cabeça ainda estava girando num turbilhão de sensações, fez força para se concentrar, puxou um dos lençóis da cama e passou em volta da perna com dois furinhos que ainda escorriam sangue. Improvisou um nó apertado, estancando o ferimento. Não precisava se preocupar quanto a esse detalhe. Sabia que em alguns minutos aquela ferida estaria fechada e cicatrizada.

Era o que sempre acontecia quando um vampiro mordia um humano. Não deixava rastros de sua presença. O humano acordava horas depois fraco e atordoado, sem entender porque estava com a gola da roupa suja de sangue mais sem ferimento algum. Os humanos não lembravam. Esqueciam o que não compreendiam. Pensavam ter tido um pesadelo.

Alice sentia a vida correndo em seu corpo novamente. O sangue quente no estômago, os pêlos do corpo eriçados. Não era como estar viva, mas era quase isso. A mulher dormia profundamente, seu rosto estava pálido, mas ela não ia morrer.

Era assim que Alice se alimentava. Dos desejos e sensações dos outros. Da adrenalina pulsante que consumia os humanos em momentos de êxtase. Só beber o sangue não a saciava, ela tinha que "temperá-lo".

Vestiu seu vestido de couro. Limpou o resto de sangue do rosto. Ajeitou a maquiagem e o cabelo. Subiu novamente no salto alto e pegou o dinheiro que estava numa mesinha do quarto, embaixo de uma taça de vinho. Saiu do apartamento, mais reluzente e sedutora de quando entrou. Agora o demônio estava alimentado. A fome que a consumia havia se calado.

Mas só por hoje. Amanhã ela seria o anjo negro de dentes afiados que poderia bater à sua porta querendo entrar. Amanhã ela seria a vampira novamente.

Gabriel Ferrari.

12 comentários:

  1. Uau!
    Fantástico seu estilo!
    Quem podia imaginar que ela seria uma vampira!
    E que vampira....
    Adorei!
    Bjos

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  2. O nome me lembrou a saga crepúsculo, que por sinal é uma $¨*)...
    adorei, nada como os bons e velhos vampiros!
    eles são tão excitantes e misteriosos, adoro vampiros!

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  3. Gabriel, anjo caído... Influência é uma coisa, mas ela não pode se tornar cópia, mesmo que, às vezes, isso possa ocorrer, digamos, quase sem querer. O escritor André Vianco só existe um, não esqueça, e ele, o original, já é um subproduto.

    Scofield

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  4. Humm.. Adoro um bafo.

    "Paulo", realmente Crepúsculo faria Bram Stoker revirar no caixão.

    "Scofield".. Não entendi sua contradição em relação a cópias. Afinal teu apelido veio de uma série bastante familiar, não acha.

    Sim, se eu leio só piadas uma hora iria escrever só piadas. Se leio só receitas de bolo, acabaria escrevendo receitas de bolo no futuro. E se leio sobre o sobrenatural, acha mesmo que ia escrever sobre o Papai Noel?

    Quer dizer que só o Bela Lugosi deveria ter crédito por ter sido o primeiro a fazer um filme sobre os dentuços? Que todos os outros são apenas cópia, que então deveriam ser atirados ao sol por repetirem algo?

    Se você lê o meu blog deve saber muito bem que não sou fã de inverdades, de imitar, de copiar, de fake disso ou daquilo.

    Quer dizer que passo horas do meu dia tentando criar uma coisa bacana, juntando frases e queimando a fuça pra você chegar no final e soltar que tô copiando e tal. Assim você me fode né amigão. Assim você me brocha.

    Qualquer coisa que use o tema que abordei vai soar como plágio, como algo já visto, é natural. Mas não é por isso que vou deixar de brincar com a imaginação.

    Apenas leia sem compromisso o que encontrar aqui, não tome como um mantra o que sai nas minhas frases, eu só estou brincando com as palavras. Deixa eu brincar, meu velho, deixa eu brincar..

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  5. Falnado em vampiros...lembre-se Bruce Waine...ops!!revelei aqui a sua verdadeira identidade Batman!!!Por mil moecegos a cidade de Ghotan agora corre perigo e vc Batman como vai se proteger desses impecaveis detentores de desejos...
    Terá que utilizar a sua Bat-simpatia, o seu Bat - carisma, o seu Bat-sorriso largo e toda essa Bat- cumplicidade , para junto a sua Bat-caverna nesses momentos Bat-intimos , desarmar os coringas e transforma-los em Bat-charadas...

    - É a chuva...é a chuva...
    - Acho que vou infartar...
    - É tão dificil ser chamado por um nome estranho...
    - obrigado!

    Até breve!!!

    ass: Tonny?
    Imortal?
    Scorpion?...

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  6. Gabriel...

    Sua resposta/diálogo só reafirma para mim que você é sagaz, anjo caído. Maneiro. Curta muito o bom astral atual. Duas coisas: 1 - Meu apelido não é por causa de Michael Scofield, de Prison Break (ótima série apenas nas duas primeiras temporadas). É por causa do guitarrista de jazz John Scofield. 2 - Bela Lugosi (fabuloso) foi o primeiro Drácula, mas o primeiro vampiro no cinema foi Max Schreck no filme alemão "Nosferatu", de 1992. Nos vemos numa Saraiva ou Cultura da vida.

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  7. Ops, Nosferatu é de 1922, claro.

    Scofield

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  8. Eh, Gabriel...Sempre tem aquele que tenta ofuscar e diminuir o talento alheio. Pois bem, eu fiquei bastante impressionada com o que li. O jeito que você conduz a escrita, através das frases, períodos e pontuações... Foi uma leitura simples, mas profunda. Tem tempo que não sinto isso, uma vontade de continuar lendo, sem parar... Tenho que admitir que você é bem ousado (no bom sentido, é claro).

    Eu gosto disso.

    Ah, estou ansiosa para ver sua entrevista no 'Conexão Transamérica'. Eu adoro pedrinho, Ildásio, Marla... Eles não 'taxam' nada, nem ninguém, eles são bem "mente aberta" para qualquer opção, seja de trabalho, sexual, religiosa, por isso vai ser bem interessante...enfim. Faz um post com antes informando o dia, okay?

    Parabéns.


    Lady M.

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  9. E aí... estava esperando a saga de Alice...
    Adorei sua ousadia e sagacidade.E o mistério... Bem continue a redigir seus textos, e tenha certeza que a maioria está amando.

    E saiba que as criticas são necessárias. Pq é através destas criticas que crescemos pois é a partir daí que surgem os debates e é com eles que vc aprimora seus conhecimentos e nós também!!!

    Bjs e sorte

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  10. Bonito, a algum tempo que leio o seu blog. Mais de mês, na verdade, sou tão íntima das postagens que me sinto, de certa forma, íntima de você.
    Nunca havia comentado por falta de coragem, mas esse seu post... ah, esse seu post! Descreve "Alice" como se me descrevesse, pele, cabelo e jeito, se é que isso é possível. Talvez me conheça nos seus sonhos, quem sabe? Ou de uma "trombada" qualquer pelas livrarias que sou assídua, apesar que acredito que não me esqueceria de você tão fácil se isso tivesse acontecido.
    Sei que gosta de Vianco, e gostaria de te sugerir uma leitura, se já não a leu: Anne Rice, a eterna mãe das crônicas vampirescas, e seus lascivos Lestat, Louis, Pandora... Tenho certeza que vão te inebriar. Quem sabe algum dia nos encontramos para conversar sobre estes livros...

    Quem sabe?
    De sua "Alice"
    (do jeito que você a criou, mas real)

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  11. "Sacrifícios ideológicos" é um termo muito heróico para descrever uma coisa que é, na realidade, muito vil: a corrupção. A partir do momento em que você sacrifica os valores nos quais acredita para obter coisas materiais ou posições privilegiadas, você está se corrompendo. A única diferença entre você e os corruptos de Brasília é que estes se corrompem por algo que têm de roubar, enquanto você se corrompe por algo que lhe dão de bom grado. E isso faz de você menos nocivo para a sociedade. Mas tenho medo de qualquer um que venda seus valores. E também um pouco de pena... É impossível ser feliz acreditando em algo e fazendo o oposto.

    P.S.: Não curto muito contos tão explícitos quanto o seu, mas a vulgaridade dele é compensada por uma escrita fluente e deliciosamente descritiva. Nada mal.

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  12. DEPOIS Q VI SUA REPORTAGEN RESOLVI CURIA NO SEU BLOG A MANEIRA Q VC ALTO DESCREVE SUAS AVENTURAS SAO ICRIVEIS,UM GEITO DE TIRAR CURIOSIDADES DE TODOS AS HISTORIS SAO DE ALTAS E BAIXAS.SEU GEITO MOLEK E INCRIVEL SENDO O Q E NAO DEIXA DE SER UM SER HUMANO FAZENDO O Q FAZ NAO TIRA PEDAÇOS E NEM MATA A VIDA E SUA E NINGUEM TEM NADA AVER.VOU CONTINUAR SEGUINDO EU BLOG ACHEI MUITO BOM O Q VC ESCREVE CONTINUI ASSIM E VC VAI LONGE VALA GAROT.............

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