quinta-feira, 5 de maio de 2011

Fome


Fome

O animal caminha vagarosamente até sua presa. Ele sente o cheiro do sangue mais de perto e logo deixa de lado a cautela rendendo-se ao instinto primal. A fome.

Caído ao lado da raiz de uma frondosa árvore, jaz um coelho morto e de seu ventre suas tripas vertem de um corte feito à faca. Sangue mancha o chão. Sangue impregna o ar. O grande Javali não demora em se lambuzar nos primeiros pedaços de carne que escapam da ferida. A isca deu certo.

Iluminado pelos primeiros raios de sol da manhã no alto da mesma árvore, o homem observa sua presa, imóvel. Ele espera o melhor momento de saltar sobre o imenso javali. Uma gota de suor se desprende da testa do homem, escorre até o queixo e despenca no ar. A gota acerta em cheio uma folha próxima ao chão repleta do orvalho matinal.

O animal sentindo alguma coisa respingar em seus olhos se irrita e solta um grunhido alto na floresta silenciosa. Com o susto o homem se desequilibra e deixa cair uma pequena bolsa de couro que trazia na cintura. A bolsa bate no solo com estardalhaço e o javali dispara fugindo da armadilha.

O homem corre por um dos troncos horizontais da árvore e salta mirando o animal em disparada. A lâmina da faca penetra o lombo do javali, mas este não pára de correr. O caçador é arrastado na frenética fuga lutando para não se soltar.

Caça e caçador despencam num pequeno barranco até baterem no caule da raiz de outra árvore. Os dois param por um instante e se encaram. Então o javali ataca.

Os gigantescos caninos do animal não rasgam por pouco o rosto do caçador. Este segura com uma das mãos o perigoso canino exposto do bicho. O Javali de 180 quilos se debate procurando se desvencilhar do caçador e ataca guinchando e avançando.

O homem cai no chão tentando manter o focinho do animal longe do seu rosto. A força e a ferocidade da criatura são tão grandes que por um segundo o imenso animal parece estar levando a melhor.

Um grito feroz explode das entranhas do homem acuado. Com um movimento rápido ele apanha um galho caído no chão ao seu lado e com toda a sua força enfia a arma improvisada no olho direito do animal, atravessando o crânio de um lado ao outro. O javali cai morto na hora.

O caçador permanece alguns segundos deitado ao lado do seu troféu respirando e tentando recuperar as forças.

A luz do sol agora iluminava toda a mata. Após dois dias caçando nas florestas geladas daquela região esquecida, era hora de voltar para casa. O caçador era e continuaria sendo o melhor naquilo que fazia.

Gabriel Ferrari.

3 comentários:

  1. nossss....
    eu adoro esse cara! como ele escreve!
    comi cada letrinha e cada vírgula dele: delícia!

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  2. Vc mudou o foco do blog ou só fez isso dessa vez? Que fique claro que eu estou adorando do mesmo modo.

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